Bem e MalPor Henrique Montserrat FernandezBem e mal, verdade e mentira, branc...
Bem e Mal
Por Henrique Montserrat Fernandez
Bem e mal, verdade e mentira, branco e preto, coragem e covardia,
riqueza e pobreza. Parece que a vida humana é regida por antônimos.
Não se fala dos nuances, dos tons de cinza, dos equilíbrios, nem das
ambiguidades.
Olhando à nossa volta, a realidade não parece ser tão estática, tão cara ou
coroa. Queira ou não, o conceito de bem e mal que conhecemos é
estritamente cultural. Não devemos supor que seja igual em todo o mundo
ou que tenha sido sempre o mesmo desde o início dos tempos. Por
exemplo, ficamos horrorizados quando ouvimos falar de rituais
canibalísticos ou infanticídio no passado, achando com certeza que é um
retrato vívido do mal no mundo e, que seus praticantes, são verdadeiros
demônios. Não devemos ser tão apressados em rotulá-los como devotos
do mal, sem antes compreender os motivos que os levaram a isso, mesmo
que não gostemos desses motivos. Isto não é apologia, é entendimento.
Diz-se que o que separa o homem das feras é justamente sua capacidade
de raciocínio, seu auto-conhecimento. Isso faz com que sejamos ótimos
em tirar conclusões do que vemos ao nosso redor, mas nem sempre, o
que enxergamos é a realidade. Não é porque o sol "nasce" a leste e "se
põe" a oeste, que isso significa que o Sol gira ao redor da Terra.
O que deveria nortear a humanidade é a procura da verdade (mesmo que
nunca a alcancemos totalmente), gostando ou não do resultado obtido.
Não é porque alguém crê em Deus e no que diz a Bíblia, que deve refutar
a realidade da evolução. Os que a negam, infelizmente, fazem o cultural
prevalecer sobre a razão das evidências.
Esse aparente paradoxo, de ter de levar sempre em consideração o
cultural para entender as motivações humanas e apesar disso, não deixar
esse mesmo contexto cultural negar a realidade dos fatos, é difícil de
concretizar, mas acaba sendo a chave para o equilíbrio que constrói o
saber.
Este equilíbrio, que rege a natureza do Universo, parece não agradar ao
homem. Os excessos sempre chamaram mais a atenção do que o
comedimento. Por isso são mais famosos os pilotos de fórmula um do que
os praticantes de caminhadas, mesmo que muitas vezes, vivam menos.
Da mesma forma, a paciência não é uma das virtudes mais aplicadas em
nosso mundo.
Tendo os extremos em tão alta conta em nossa sociedade moderna, é
normal que o caminho do meio não seja visto como o mais recomendado
em situações cotidianas, se quisermos vencer. Parece que vivemos em
eterna disputa ! Ao dirigir um veículo, ao entrar num banco, ao caminhar
pelas ruas, é como se estivéssemos atrás de bater algum recorde num
estádio, ou defender nossa vida numa arena romana!
O mal que isso nos faz, tanto física como psicologicamente, é o único
"prêmio" que auferimos, com esse estilo de vida.
A competição é salutar e gera inovação, mas em excesso, é a causa
também da fome e das guerras. Mais uma vez o equilíbrio parece ser a
resposta a esse dilema.
Agora, pensemos um pouco naqueles que utilizam a paciência e a
perseverança para obter o saber:
Os paleontólogos ou arqueólogos que permanecem debruçados sobre um
sítio por meses ou anos a fio, com alguns poucos instrumentos e muita
paciência, escavando camada após camada de sedimentos, à procura do
conhecimento que a natureza, no passado, escondeu para o futuro.
Os físicos, os cosmólogos e outros que como eles, passam a vida toda
tentando decifrar a escrita da realidade do macro e do microcosmo,
utilizando instrumentos feitos em geral sob medida, como um terno, e
outros ainda, que devem ser criados do nada, além de muita matemática,
lógica e raciocínio dedutivo a fim de conseguir informações de coisas que,
em geral, não parecem ser o que são.
Estes são apenas exemplos. Todos podem aproveitar as virtudes do
equilíbrio, da paciência e da perseverança em seu cotidiano, basta
exercitá-las. Pode parecer difícil, demorado e até antiquado à primeira
vista, mas dá frutos bastante saborosos no final.
Equilíbrio, paciência e perseverança são atitudes que, utilizadas como
ferramenta de crescimento na busca do conhecimento, permitem uma
satisfação mais duradoura quando este é enfim alcançado.
Henrique Montserrat Fernandez é Administrador de Empresas com pós-graduação
em Tecnologia da Informação